Treinamento sem fronteiras, sem paredes e sem taxas desde 1985. Mais de 5.000 páginas de recursos gratuitos em 27 idiomas.

Missão Tranformadora Mudanças de Paradigma na Telogia da Missão

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Trecho de um ensaio apresentado como parte dos estudos conduzidos pelo Seminário Fuller, EUA. Este ensaio é focado sobre a tese de David J Bosch em seu livro inovador, Missão Transformadora e foi escrito pelo estudante de doutorado John B Clements, Llanelli, Reino Unido. © 2007.

UMA ILUSTRAÇÃO CONTEMPORÂNEA A REDE CRISTÃ MUNDIAL DCI

1. Panorama para o aparecimento da Rede Cristã Mundial DCI

A obra da “Fundação DCI” iniciou-se nos de 1980, a retaguarda de um período da história do qual Bosch descreve como tendo sacudido a civilização ocidental em seu cerne. A globalização está ocorrendo a passos largos; a pobreza e a desigualdade nunca foram tão grandes no mundo; a modernidade está dando lugar à pós-modernidade. Na Europa, o cristianismo dá lugar ao multiculturalismo secular, enquanto que na Ásia, África e América do Sul, o cristianismo não ocidental está ganhando novos convertidos, força e confiança em níveis espantosos. Dessa forma, o forjamento da preocupação e das prioridades da DCI acontece em um período no qual o movimento mundial cristão experimenta tanto

urgência quanto consciência crescentes, porque as novas tecnologias permitem aos pesquisadores e estatísticos investigarem, analisarem, assimilarem e representarem a tendência global com graus de compreensão anteriormente inacessíveis – por exemplo, em 1978, o manual de oração global, Operação Mundo, foi pela primeira vez publicado; após a identificação, o enfoque e objetivação da área de resistência ao evangelho da janela 10/40 – tornando mensuráveis e  visíveis como nunca antes, os povos mais pobres, mais negligenciados e menos alcançados pelo evangelho.

2. A transformação social – o impacto social da obra da Fundação DCI

Contra tal panorama, durante os vinte e dois anos desde sua origem, a Fundação DCI tem crescido para representar uma comunidade internacional e interdenominacional se estendendo pelos cinco continentes, tocando as pessoas de mais de uma centena de nacionalidades diferentes. Sua obra vocacional – responder ao chamado para os perdidos, os últimos e os menores – se foca principalmente nos pobres das nações em desenvolvimento, equipando-os através do treinamento de liderança, micro-empréstimos, desenvolvimento de negócios e projetos de construções comunitárias.

Através de uma rede com indivíduos nativos comprometidos, que sejam comprovadamente líderes responsáveis, a DCI tem contribuído para um conjunto vasto e eclético de projetos, incluindo: prédios para igrejas, escolas e famílias; computadores, camelos, carros, fazendas, estoques de grãos, medicamentos, cirurgias; escolas para crianças e adultos; óculos, ferramentas, cadeiras de roda, oficinas, apicultura, plantação de árvores, horticultura, gerenciamento doméstico, nutrição, treinamento sobre HIV/AIDS, piscicultura, panificação, fabricação de desinfetantes, cursos de corte e costura, e escolas profissionalizantes.

Na Indonésia, (1) a DCI associou-se com comerciantes cristãos para a abertura de uma pequena fábrica de capachos, e com isso, gerando emprego para mulçumanos em sua maioria, e produzindo lucro para a igreja local. Em Burquina Faso, associou-se com o povo local no cultivo de um bananal, com a cobertura de quatro hectares de terra seca, semidesértica, produzindo emprego local e uma colheita regular substancial desse importante cultivo comercial.

Na Uganda, (2) sua parceria para desenvolver um banco de cabras auto-reprodutivo tem testemunhado um crescimento e lucro fenomenais: um pastor local declara: “As cabras são o projeto número um de Deus nesta zona de guerra da África. O relatório sobre o projeto de cabras está se espalhando como fogo em palha e estamos otimistas sobre os efeitos e os resultados para essa comunidade carente”

Em Aduku,(3) no norte da Uganda, iniciou-se em 2003, um projeto de crédito com meio milhão de shillings ugandenses, supervisionou-se uma série de micro-empréstimos para viúvas e órfãos de guerra, da violência terrorista, e da AIDS resultando no crescimento do fundo para dois milhões e meio de shillings em 2006, sem qualquer falência dos negócios! Agora as crianças recebem educação pela primeira vez na vida. (4)

3. A transformação Missiológica A prática missionária da Rede e da Fundação DCI

A Rede Cristã Mundial DCI gira em torno do eixo de seu website global, que registrou mais de 34 milhões de visitas, por três milhões de visitantes exclusivos, em suas 3.000 páginas apresentadas, pelo menos parcialmente em 17 línguas, todas oferecidas gratuitamente. Este portal é utilizado para disseminar notícias enviadas pelos visitantes do website. Atualizações regulares a respeito de pessoas e de projetos descritos são disseminadas para os subscritores via boletins por e-mail.

O website detalha as estratégias em relação às quais os recursos da Fundação DCI estão destinados, a saber: promoção e facilitação de centros ou escolas de treinamento bíblico; uma gama de projetos de negócios para missões e apoio evangelístico focalizando grupos de pessoas e membros negligenciados da sociedade. (5)

Os recursos da escola DCI – sem – paredes, oferecem uma série de esboços educacionais divididos em seis partes, a saber, evangelismo, missões, discipulado, dinheiro, liderança e crescimento da igreja, e ainda instruções sobre como dar início a uma escola de baixo custo. Cada uma das 85 lições inclui elementos ideais para grupos pequenos, incluindo versículos bíblicos para memorização, tópicos para debates, lição de casa, meditações, trabalhos escritos para o diploma, ensino bíblico e tempo de oração. Pesquisas têm indicado que este formato é ideal para ser usado em nações em desenvolvimento onde os níveis educacionais variam muito, porém existe uma fome insaciável de aprendizado. (6)

Os projetos de Negócios para Missão envolvem geralmente micro-empréstimos na África e na Índia, através de programas do banco para os pobres, dirigidos sob a governança de um comitê local, incluindo o contato principal que solicitou fundos da Fundação. O comitê anuncia a disponibilidade, dentro de um vilarejo ou localidade, de empréstimos sem juros ou a juros muito baixos no valor de US$ 50 a US$ 150. Os programas têm um alto índice de sucesso, com poucos defraudadores e são fácil e regularmente reproduzidos em locais secundários. (7)

As Festas de Natal para os Pobres são eventos anuais práticos e muito valorizados, patrocinados pela DCI, cujos membros de algumas das comunidades mais pobres e mais negligenciadas, em locais como Malawi, Uganda, Peru, Indonésia, Tailândia, Papua, Quênia e Índia são convidados, na época do Natal, para uma festa onde recebem de presente, comida e roupas; livros e sementes; ouvem as Boas Novas sobre Jesus e experimentam as alegres músicas e danças. Pocock escreve pungentemente sobre tal fenômeno: “Através da eficiência da comunicação rápida e … tecnologia de obliteração de fronteira, dos relacionamentos pessoais e dos simples atos de bondade é possível, no final, constituir as melhores estratégias – e elas podem ter mais atrativo em uma era pós-moderna”. (8)

O modus operandi organizacional da DCI é notável: ela deliberadamente não possui imóveis e não paga salários; (9) todo o trabalho é feito voluntariamente, por colaboradores responsáveis pelo seu próprio sustento. O eixo central da internet é gerenciado em um escritório doméstico; enquanto que até quarenta colaboradores ao redor do mundo, responsáveis por traduzir as notícias e páginas de estudos em 17 línguas, trabalham em suas casas ou em LAN-houses, sem receber qualquer remuneração monetária, e com frequência, sem jamais terem visto cara a cara, membros do staff da Fundação. Um pequeno núcleo de amigos comprometidos e de apoiadores é responsável pela maioria das contribuições financeiras do trabalho da Fundação. (10)

4. A transformação Teológica – a teoria de missão da Fundação DCI

Durante o seu crescimento para uma rede e um movimento prósperos, a Fundação tem desenvolvido uma teologia contextual precisa e pós-moderna de prática missionária, localizada dentro de uma série de instruções e ensinamentos sutilmente espalhados através do website DCI. Essa teoria missionária informal é suplementada pela referência ao ensino desenvolvido e detalhado contido nos materiais escolares.

A DCI permanece firmemente dentro da herança evangélica de “missão de fé”, com ênfase na fé; oração; reconhecimento e desenvolvimento de dons espirituais; compromisso nos elementos de guerra espiritual; motivação focando a glória de Deus, ao invés de escapar do inferno e uma sensibilidade cultural que coloca forte ênfase na liderança e estratégia nativas. (11)

Uma abordagem aberta, centrada no relacionamento, marca o movimento DCI como essencialmente pós-moderno, como tipificado por essa introdução ao ministério. O movimento não tem líderes formais, anciãos (12) ou ainda constituição escrita, mas somente a Bíblia. Trabalhamos juntos em amizade, apoiando-nos uns aos outros no chamado de Deus para diversos tipos de estilo de vida e de missão.  (13) Esse ecumenismo prático ecoa na acolhida calorosa aos visitantes católicos do website, (14) assim como o lugar discreto dado à declaração formal de fé (Credo de Nicéia), mas acima de tudo através das oportunidades providas pelo website, encorajando leitores a por em prática sua própria fé, suplementada pela experiência e recursos oferecidos pela DCI. (15)

No entanto, por trás dessa abordagem delicada existe uma mão firme insistindo, acima de tudo, em padrões bíblicos de responsabilidade ou administração daqueles para quem a parceria é concedida. Buscamos homens ou mulheres com honestidade comprovada e com visão para servir os pobres, e que também tenham as habilidades espirituais e administrativas necessárias.

Esse foco na liderança e no desenvolvimento comunitário, através de centros de treinamento, localmente iniciados, gerenciados, e responsáveis, ecoa uma tendência movida por novas tecnologias a que Pocock descreve como “um equilíbrio essencial para ministérios que trabalham com internet”, caso esse ministérios queiram evitar a tendência da globalização desumanizada. Adicionalmente, o foco central da DCI sobre a educação bíblica constitui um passo vital em direção à transformação das culturas, em função de uma visão mundial bíblica, algo que Miller considera um precursor essencial para o desenvolvimento sustentável. (16)

Nesse contexto, o foco da DCI na parceria financeira e no desenvolvimento econômico é fundamentado pela filosofia biblicamente baseada, que contempla a tarefa plena da missão mais ampla do que o evangelismo eloqüente. (17) Para os pobres, especialmente aqueles que recebem assistência, há uma ênfase em “quebrar o curso da pobreza”. Miller se refere a uma ‘inclinação à pobreza’ – e evitando a dependência através de iniciativas econômicas empreendedoras. Dessa forma, micro-empréstimos são oferecidos com o único objetivo declarado de gerar autonomia genuína através de micro-indústrias ou do trabalho doméstico com a única meta de levar o proprietário e os trabalhadores a um local de auto-suficiência na vida e fazendo com que eles sejam generosos para com outros algum dia. (18)

Para os ricos, existe uma ênfase na generosidade para com os pobres, baseada no texto de Deuteronômio 15:7-11; os mantenedores financeiros de projetos de “negócios para missão” são encorajados a considerar sua doação como investimentos definitivos sobre os quais deveriam esperar um retorno, possibilitado pelas bênçãos do Senhor, de acordo com Lucas 19:13. O conceito da “festa de Natal para os pobres” é decididamente baseado na história de Lucas 14. Para aqueles que pretenderem “ir” ou estender suas atividades missionárias existe um desafio original, diferente do tradicional levantamento de fundos, mas em direção ao reverente levantamento de amigos e de liberação de fundos! (19)

5. Conclusão

O modo e o formado da obra e o crescimento da Fundação DCI representam muitas das tendências sendo cada vez mais debatidas nos livros cristãos sobre missões, blogs, boletins e ministérios, tipificando as novas abordagens para a colaboração em treinamento, financiamento e trabalho em rede, cada vez mais demandados em um contexto pós-moderno. Propriamente dito, ela representa uma comunidade cristão autêntica, missiológica, pós-moderna e intercultural envolvida em transformar a dura realidade de algumas das comunidades mais carentes do mundo. 20

AGRADECIMENTOS

1 Bosch 400-08

5 Bosch 447-57
Pocock et al, 34-6, 161
Miller 25-7

8 Pocock et al, 41

9 Esta declaração representa o auto-entendimento da DCI como uma organização que tem sido largamente aceita sem críticas: embora seja compreendido pelo autor que o Diretor da Fundação DCI seja apoiado financeiramente em sua posição, também é compreendido não ser na forma de um contrato de trabalho, nem há garantias pela Fundação e dessa forma nenhum salário em sentido típico. Mais significantemente, o financiamento do staff central da Fundação não é especialmente importante ao uso da DCI como um exemplo de uma organização missionária pós-moderna: o contexto mais amplo no qual esta “declaração de auto-entendimento” se encontra é o movimento produzido pela DCI, ao invés da própria Fundação central. Por exemplo, o “movimento” claramente opera eficazmente em cenários não ocidentais, multiculturais no exterior, onde nenhum salário é pago, onde as doações em dinheiro são usadas para projetos de geração de riqueza entre os pobres, como elucidado no texto e comparado a, digamos, remuneração financeira para o trabalho pastoral ou cruzada evangelística (como é típico de muita ajuda “do ocidente para o resto”). Isso é de longe o aspecto mais extraordinário.

11 Bosch 447-57 Pocock et al, 34-6, 161 Miller 25-7 77 Enquanto o Dr Les Norman está claramente na liderança e na responsabilidade para estabelecer todo o tom do trabalho da Fundação DCI via seu website e, nesse sentido, inquestionavelmente um líder como observado acima, com respeito às questões de salários, o contexto mais amplo do movimento é onde a questão real é levantada. Por exemplo, os projetos do Banco para os Pobres, e as Escolas Missionárias iniciados totalmente com recursos da DCI não são obrigados (e não creio que também sejam instados ou encorajados) a incorporarem o nome DCI (exceto para prover crédito como fonte de materiais de ensino, por exemplo). Os líderes pastorais locais, enquanto sejam confiáveis para a DCI pelo uso combinado de recursos recebidos, permanecem totalmente confiáveis para seus próprios líderes locais em respeito à logística detalhada de projetos e certamente em outros aspectos de suas vidas e ministérios. Dessa forma, eles não são encorajados a se verem como líderes da DCI, mas somente parceiros da DCI em projetos de trabalho compartilhados.

12 Enquanto o Dr Les Norman está claramente na liderança e na responsabilidade para estabelecer todo o tom do trabalho da Fundação DCI via seu website e, nesse sentido, inquestionavelmente um líder como observado acima, com respeito às questões de salários, o contexto mais amplo do movimento é onde a questão real é levantada. Por exemplo, os projetos do Banco para os Pobres, e as Escolas Missionárias iniciados totalmente com recursos da DCI não são obrigados (e não creio também sejam instados ou encorajados) a incorporarem o nome DCI (exceto para prover crédito como fonte de materiais de ensino, por exemplo). Os líderes pastorais locais, enquanto sejam confiáveis para a DCI pelo uso combinado de recursos recebidos, permanecem totalmente confiáveis para seus próprios líderes locais em respeito à logística detalhada de projetos e certamente em outros aspectos de suas vidas e ministérios. Dessa forma, eles não são encorajados a se verem como líderes da DCI, mas somente parceiros da DCI em projetos de trabalho compartilhados.

13 Bosch 467-74

14 Bosch 457-467

16 Pocock et al 2000, 43-4
Miller capítulos 1 e 2

17 Bosch 409-20

18 Miller 67ff

19  Escobar 139 85 Pocock et al 72, também os capítulos de 9 a 11, debatendo “Beyond Individual Efforts to Networks of Collaboration”, “From Self-Support to International Partnership” e “Life in the Virtual World and Beyond”.

20 Pocock et al 72, também os capítulos de 9 a 11, debatendo  “Beyond Individual Efforts to Networks of Collaboration”, “From Self-Support to International Partnership” e “Life in the Virtual World and Beyond’.

Outros ensaios e recursos missionários podem ser obtidos do website do autor: www.eternalpurpose.org.uk

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